Senhora saudade de duzentos e sessenta e três dias,

Por Maria Clara Melchioretto. , domingo, 18 de dezembro de 2011 01:20

Ainda me corrói a curiosidade de saber como se encontra teu rosto,
tuas mãos,
teu cabelo,
teus sonhos,
E principalmente tua voz, que já nem me lembro o som.
Quanto a mim,
que também me perdi durante todo esse tempo,
só há o fato de que continuo perdida
E de que guardei todas as datas que fingi esquecer.
Inclusive estes, agora, são meus pesadelos.
Nem sei se aconteceram realmente, mas os tenho todas as noites, desde que decidi ir embora, dia vinte aliás, vinte de janeiro.
Mas são esses, são esses os pesadelos mais horríveis dos que tenho
E sempre começam na ultima palavra do dia trinta de março,
Seguem pelo egoísmo que chorei no dia três de abril,
E acabam no que gritei no dia quatro.
O que resta é apenas o silêncio da tua voz que não escuto,
E a vontade de acordar e ver que não passou de um pesadelo.
Acontece, saudade, que eu não te vejo quando abro os olhos,
Não sinto o teu cheiro,
E nem, ao menos, encontro tuas roupas.
Logo me lembro que não consegui parar o trem que me levou embora de mim.
Pelo menos ainda tenho as tuas músicas.
Inclusive as ruins, que não têm música nenhuma.
É triste, saudade, mas o que me conforta é como acaba.
Assim mesmo, sem ponto final;